sexta-feira, 8 de maio de 2009

Para ver o belo

Os brinquedos à venda por aí tem me incomodado bastante, já há algum tempo.
Por muitos anos, desde que minha irmã deixou a infância, não me relacionei diretamente com eles. Foi só com o nascimento do PP que passei a procurá-los e me choquei com sua qualidade estética: cores de mais e criatividade de menos. São objetos pobres em beleza, aspecto este muitas vezes considerado menos importante, talvez por ser intangível...
O Inmetro tem feito bastante com relação à segurança dos brinquedos, assunto indiscutivelmente importante. Porém, e quanto ao seu conteúdo formal?
Não serei saudosista dizendo que "no meu tempo" a coisa era melhor... A referência de qualidade na minha infância era a Estrela e, do que me lembro, eram brinquedos bem feínhos, com muito plástico e materiais sintéticos. Não agradavam nem aos olhos nem ao tato.
Hoje reinam os brinquedos oriundos da China e custam muito, muito barato. Assim, além dos materiais pobres, acrescenta-se nesta mistura um bocado de luzes e sons para irritar até aos mais insensíveis, abrutalhados por viver em cidades barulhentas e caóticas como as nossas... Não acho que isso seja culpa dos chineses. O responsável é o espírito de nosso tempo, onde tudo tem de ser fugaz para vender. De preferência, muito! Fico aqui pensando nos lindos brinquedos que deveriam existir na China antes da Revolução Cultural... Num momento em que o intercâmbio entre países nunca foi tão facilitado como hoje, o que recebemos da China não passa de quinquilharias da pior categoria. Deixamos de conhecer uma vastidão cultural comparável aos milênios de história chineses e à dimensão de seu atual território.
Penso que estas questões tem relação direta com os males de que padecem nossas cidades e até nossa vida cotidiana. A beleza não é valorizada muito menos considerada como um elemento essencial na formação do caráter de um indivíduo.

Até ser mãe estes temas me suscitavam perguntas, no entanto fui encontrando caminhos pessoais para ir de encontro ao belo. Agora, sendo responsável pela criação de uma menininha, como orientar seu olhar para a beleza e evitar a banalização formal do seu pequenino universo?

Certo dia me deparei com uma exposição no metrô Paraíso de desenhos de crianças do mundo inteiro, selecionados pela UNICEF com auxílio das escolas. Foi há muito tempo, eu ainda era estudante secundarista, porém me marcou muito e foi responsável por muita reflexão, tanto à época quanto hoje. Os desenhos eram incríveis, demonstrando uma enorme capacidade de sintetizar cores e formas, muita criatividade e um senso de harmonia que raramente é visto em nosso dia-a-dia. Eu ficava ainda mais impressionada com a idade de seus autores: 4, 5 anos... Nunca havia visto crianças desta idade desenhar tão bem por aqui. Mas o choque mesmo foi quando encontrei os desenhos do Brasil. Não só seus autores eram mais velhos (idade em que a maioria das nossas crianças tem acesso à educação) como suas obras eram mais pobres, simples. Saí da exposição entristecida, pensando no desperdício de capacidades das nossas crianças.
Nossa sociedade não tem estimulado adequadamente o olhar para o belo, esta é a constatação. E os brinquedos de que dispõem nossas crianças são mais uma oportunidade perdida para a aquisição desta capacidade, infelizmente.

2 comentários:

  1. a unicef faz anualmente esse concurso de desenhos, vimos em NY os melhores de 2008 e tivemos uma impressao mto parecida com a sua, infelizmente.
    na verdade, vi recentemente um estudo de mercado sobre consumo de massas e o resultado eh interessante: os grupos considerados emergentes assimilam novos padroes de consumo, mas com estetica propria, sem copiar o que a elite economica (e supostamente cultural) gosta. Se isso eh bom ou ruim, eh dificil dizer, afinal nossa elite tbm eh miseravel em cultura.
    e parece que a explicacao para os nossos emergentes terem essa estetica mais simplista que dos asiaticos ou europeus do leste deve vir do fato de nao valorizarmos nossas raizes (nem na elite nem nas classes D/E).
    mas o fato eh que o fenomeno eh novo, ainda nao tem explicacao definitiva. e como nao sou pai, ainda posso tratar soh conceitualmente.... rsrs
    bjs!

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  2. Uns amigos me contaram de um documentário sobre consumo infantil (esqueci o nome, me lembra Pri!) no qual há o resultado de uma pesquisa com crianças brasileiras. Quando o pesquisador mostra para elas frutas banais como manga, por exemplo, elas não sabem dizer o nome, não conhecem, nunca provaram... Porém, ao mostrar logotipos da Claro, Tim e outras empresas, elas rapidamente sabem distinguir. Por que será?

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