quarta-feira, 29 de abril de 2009

Amamentar, maternar, etc.

Nunca imaginei não amamentar minha filha.
Como boa garota que sou, se a OMS recomenda amamentação até os dois anos de idade, ou mais, não vou questionar e seguirei direitinho o que é indicado.
O governo federal nos últimos anos tem martelado a idéia da importância da amamentação, contrariando interesses de multinacionais como a Nestlé, que por décadas boicotoram o aleitamento materno, criando o famoso mito do leite fraco.
Mas o que eu não sabia até ter a O. é que amamentar não é fácil. Não se nasce sabendo (quer dizer, o bebê sabe, a mãe é que não!) e depende de prática.
Não tivemos problemas nos primeiros 3 dias, a O. mamou no primeiro minuto de vida, o que é importante para que ela não perdesse o reflexo de sucção com o qual nasce, e, depois disso, mamava e dormia, tranquilamente.
O leite dos primeiros dias é o colostro, rico em tudo o que o bebê precisa, mas que parece uma aguinha rala, compatível com um estomagozinho que até então só havia digerido líquido amniótico.
Acontece que depois dessa fase, o corpo começa a produzir o leite que substitui o colostro e que vem em grandes quantidades. Imagino que esse volume aumentado seja para criar os canaizinhos por onde o leite vai descer até o bico do seio, por isso tem de ser um fluxo forte.
Tão forte que entope! Isso mesmo, o famoso ingurgitamento. Que dói e impede o bebê de mamar, além de poder se transformar numa mastite.
Meus peitos ficaram enormes e doloridos, ao passo que a O. mamava e não parecia satisfeita. Até que começou a reclamar...
Por sorte, a avó dela é pediatra e estava ali para me orientar.
Olhei para a O. em meus braços e disse a ela, que já chorava de fome: "Espere um pouquinho, querida, que vamos resolver isso, prometo". Para minha surpresa, ela parou de chorar e ficou quietinha, me olhando, parecia que tinha entendido e confiava na minha promessa. Desnecessário dizer que quem começou a chorar fui eu por ter um bebê tão compreensivo!
Mas voltando à técnica...
Retiramos o excesso de leite, massageando o seio da aréola para trás, e aí o fluxo ficou perfeito, de acordo com as necessidades da O. Sobrava bastante leite e congelamos um pouco.
Depois disso, amamentar virou minha paixão.
Mas caiu uma baita ficha pra mim do porque muitas mulheres desistem de amamentar. É uma técnica a ser aprendida e, como tal, necessita que alguém as ensine... Mas quem?
Os hospitais, principal local onde nascem os bebês, não só não ensinam como atrapalham esse processo. A Unicef e a OMS criaram os 10 passos para o aleitamento materno. Passos simples mas fundamentais nessa aprendizagem. Pois se o bebê não é estimulado corretamente, ele também não auxilia na produção de leite pela mãe, já que a sucção é fundamental. E aí começa o círculo vicioso de pouco fluxo, bebê com fome, complementação com fórmulas para matar a fome da criança que, saciada, vai sugar menos ainda... Sem contar que o bebê nasce com reservas de uns três dias sem precisar se alimentar, pois muitas vezes o colostro não é produzido logo após o nascimento. Só que nos hospitais, as enfermeiras super bem intencionadas e até alguns pediatras vão logo dando fórmulas ou, ainda, glicose para a criança, que já está até perdendo peso! (Todo bebê perde peso após nascer; dizer para uma mãe que seu filho passa fome por que ela não tem leite é o cúmulo!)
Sempre que visito amigas ou parentes em maternidade, constato que vários dos 10 passos não são seguidos. Por que será?
Porque ensinar uma mãe novata, com carinho, dá trabalho. E dificulta a "rotina" hospitalar.
E, definitivamente, esses passos não combinam com o "business" em que se transformaram as maternidades brasileiras, sobretudo as da elite...
Para quem se interessar:

1.Ter uma norma escrita sobre aleitamento
materno, que deverá ser rotineiramente transmitida a
toda a equipe de cuidados de saúde;
2. Treinar toda a equipe de cuidados de saúde, capacitando-
a para implementar esta norma;
3. Informar todas as gestantes sobre as vantagens
e o manejo do aleitamento;
4. Ajudar as mães a iniciar a amamentação na
primeira meia-hora após o parto;
5. Mostrar às mães como amamentar e como
manter a lactação, mesmo se vierem a ser separadas
de seus filhos;
6. Não dar a recém-nascidos nenhum outro alimento
ou bebida além do leite materno, a não ser que
seja indicado pelo médico;
7. Praticar o alojamento conjunto - permitir que as
mães e os bebês permaneçam juntos 24 horas por dia;
8. Encorajar o aleitamento sob livre demanda;
9. Não dar bicos artificiais ou chupetas a crianças
amamentadas ao seio;
10. Encorajar a formação de grupos de apoio à
amamentação para onde as mães devem ser encaminhadas,
logo após a alta do hospital ou do ambulatório.


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